Senti a firmeza com que me agarraste nas mãos, um dia, desvanecer. Olhei, horrorizada, todos os sentimentos de pertença escorrerem-me, silenciosos, por entre os dedos, como a areia fina que pisaste comigo numa tarde de devaneios.
Vi o buraco fundo que cavaste - e foram três facadas no coração por cada memória que enterraste, furioso.
Vi o buraco fundo que cavaste - e foram três facadas no coração por cada memória que enterraste, furioso.
Doeu o desprezo, o pisar no chão, o cemitério da nossa paixão; doeu a chegada de um outro corpo, o bater forte das lembranças no piso duro da vida. Mas o que doeu mais foi ver-te sofrer pela mesma causa que eu, e a porta fechada na minha cara.
"E uma febre e um vácuo que há em mim
Confessa-me já morto... Palpo, em torno
Da minha alma, os fragmentos do meu ser
Com o hábito imortal de perscrutar-me."
Confessa-me já morto... Palpo, em torno
Da minha alma, os fragmentos do meu ser
Com o hábito imortal de perscrutar-me."
Fernando Pessoa
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