25 de novembro de 2008

Broke

São esperanças de três ou quatro dias, que desvanecem ao quinto, no virar da esquina mais próxima do pecado. Nunca gostei muito de alimentar ilusões provisórias nem de guardar actos involuntários, e muito menos fazer deles modelos morais para mim.
É por isso que continuo a rejeitar a noite em que a puta foi pedida em casamento pelo cliente, o mesmo dia em que, os dois, foram arrastados pela melancolia das ruas geladas, para uma casa de fados. Foi lá que, em deslizes dançantes, ao som da tépida melodia, rodopiando entre as mesas redondas, o cliente apertou a puta pela cintura e beijando-lhe os lábios vermelhos fez a pergunta do despropósito. Calou-se então o fado. Foi o roçar do vestido agarrado à pressa, foi a respiração ofegante do desespero, foi o cair das lágrimas que a puta espalhava enquanto corria, era esse o som da noite. Foi o arder de um coração perplexo, o arrastar de uns sapatos gastos - era esse o som da casa de fados.
Já lá ao fundo, algures no Mundo, a puta parou e chorou. Era o morrer do amor que acabara de nascer.
Acabei de ouvir um estrondo.

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