Fugiu. E eu continuo que nem uma criança a correr pelo bairro e a pôr-me por baixo do parapeito da tua janela, a espreitar com cuidado quando oiço a porta do quarto bater, para olhar para ti durante fracções de segundos, mesmo que vás só buscar uma coisa que te esqueceste em cima da cama. E quando sei que não estás faço o mesmo - olho para o espaço vazio e desarrumado e de repente, como fantasmas, aparecemos nós, emaranhados um no outro, ou tu com a cabeça no meu colo enquanto te rebento borbulhas, ou a beijares-me alienado um braço ou o pescoço enquanto vemos um filme. Também te revejo concentrado em livros, de tronco nu, comigo ao colo a dar-te mimos. E tu a ignorares-me, uma indiferença querida e despropositada, apaixonada quero eu dizer, ameninada.
É isso que me aparece à frente, como uma realidade paralela, fantasmagórica, enquanto olho o teu quarto e tu não estás. Como pelicula de um filme antigo, numa sequência cronologicamente alternada, nós a rodarmos num cinema imaginário.
Acordo para a vida quando o sino da igreja toca e sei que são horas de jantar. Por essa altura a minha mãe está furiosa comigo porque estou atrasada, mas o filme acabou tarde e não sou eu que decido essas coisas - digo-lhe eu.
2 comentários:
tão amorosa :) bem escrito!
***** grandes.!
gostei muito.
beijinho
Enviar um comentário