19 de setembro de 2009

Esquecer e nunca mais lembrar são coisas diferentes. Uma pessoa que esquece não volta a falar no assunto nem diz "ah sim já me lembro!". O que tu fizeste é nunca mais te lembrares, ou pelo menos tentas, nessa batalha helenica constante onde és combatido e combatente.
Não me venhas é com histórias que já esqueceste tudo, que uma cama desfeita em benifício do amor já não te diz nada e que a carpete do teu quarto já não está manchada pelas nossas lágrimas, derramadas em prol de remorsos, confortos, máguas e ressentimentos. Não me venhas com histórias que a televisão do teu quarto deixou de estar sempre no mesmo canal, que o cadeirão não é berço de nenhuma paixão, que não te consola e não te lava a alma cada vez que te sentas nele e relembras um peso cabisbaixo ao teu colo, à espera de ser mimado. Não me venhas com histórias que te esqueceste da minha bochecha vermelha depois de uma noite deitada no teu peito, porque também eu não me esqueci do teu braço perdido, envolto no meu tronco, a segurança do meu grandioso estado de graça. Nem de quando abria os olhos e me revia, quase numa terceira pessoa e de outro ângulo, imersa em todo o teu ser, tu. Perdida em pormenores, de braços entrelaçados, tu de olhos fechados, concentrada no teu peito a subir e descer, ao sabor de uma respiração tranquila, na paz de um amor verdadeiro.
Não te admito que digas que já esqueceste o cheiro da minha pele, que tanto gostavas, e de me percorreres o corpo com o nariz, como se quisesses desesperadamente reter para sempre o aroma que te movia; pois também eu, ainda hoje, volta e meia encontro em recantos o cheiro da tua roupa e do teu shampoo, num corpo qualquer, de influência zero. O teu corpo nu, desenhado na subtileza de uma lua, agarrado ao meu - nem um nem outro esquecemos.
Não me venhas com histórias, estúpido, que tu não esqueceste foi nada.

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