24 de março de 2014

Universo

Tu disseste: o Universo.
Ainda o guardo em mim.
Em local secreto e inacessível,
em pedra e vento,
em mar revolto.
Tu disseste: ama-me como quando o mundo acaba!
Tenho febre - não consigo.
Arrastei-me heroicamente para o teu peito.
Não tiveste coragem.
Perdeste-a no dia em que me pediste que te amasse
como quando o mundo acaba.
Eu disse: como é que se ama como tu?
Em que sítio agitado guardas a tenacidade
com que me amarraste um dia a ti,
Que paz?
Sinto-te capaz de rastejar.
Capaz, mas não encorajado a,
cobarde no teu orgulho,
ferido no teu amor.
Gemes e contorces
o fígado doente de mim,
porque engoles do copo aquilo que deixaste em mim.
Podes vir buscar.
Pagas penitências mil,
podes vir buscar.
Não esqueças que a eternidade é pequena.
Eu não fico com mágoa.
O meu corpo já secou à custa da mágoa,
não há mais alma que suporte novo golpe.
Podes vir descansado.
Sou um perdigueiro moribundo
ferido na caça.
Já dói o peito oco - ainda não se partiu.
Quase...
Disseste o que tiveste:
o Universo.


Sara (2012)



2 comentários:

Ana Tapadas disse...

Sempre no limiar. Arrojada e bela a escrita...

Beijinho

P disse...

'...como quando o mundo acaba...' E acaba tantas vezes, acho eu. Felizmente refaz-se, com cicatrizes, com o mau e o bom delas.