24 de abril de 2014

Tudo se-nos

Esqueceram-se de nós.
No terror do Amor, esqueceram-se de nós.
Haviam outros homens e outras mulheres pelo caminho
e depois de desenlaces arrependidos à custa só dos nossos corpos,
mais nada,
todas as circunstâncias do universo se esqueceram de nós.
Acabaram-se-nos os olhos com a morte do coração;
Perderam-se-nos as pernas no último salto do peito;
Escaparam-se-nos os braços para copos tristemente bebidos.
Porque éramos só de nós
e nós éramos os dois
e quando aconteceu o precipício do beijo no calor da atmosfera,
também ficámos condenados ao inevitável do fim.
E com culminar desse abafado solo onde nascemos
enegreceram-se-nos as mãos com as quais nos percorremos profundamente devotos
e morreram-se-nos as esperanças nos relógios imparáveis.


Lisboa, 2012

2 comentários:

Ana Tapadas disse...

Sempre um belo arrebatamento...

Beijinho

vieira calado disse...

Pois, amiga... Os relógios são imparáveis!
bonito poema!

Agora tenho vídeos sobre o tema 25 de Abril, hoje, no Centro Cultural de Lagos.
Estarão lá até Julho.
Beijinho para si!