13 de março de 2014

Amor Truncado

Temos muitos anos, demasiados anos. Somos como os velhos rugosos, gastos, imprecisos, trémulos e ansiosos por morrer. Não sei o que nos continua a reter nesta inércia de despedidas anónimas e olás inesperados, mas sei que ainda nos esperamos secretamente como se o nosso amor fosse um vácuo inalterado e o nosso olhar o eterno repouso das saudades desesperadas e sós. É como se o espaço que nos separa morresse quando te encontro no acaso da terra que nos prega partidas e, ansiosos, agarrássemos a mesma corda que nos guia inexoravelmente para a lealdade de um momento efémero, mas permanente e precioso.
Os nossos corpos desconcertados sucumbem à futilidade de um reencontro mudo e carregado, como se de luto fosse construído o nosso sentir. Orgulhoso e egoísta, o paradigma de que tudo foi só de nós próprios e não dos dois, e ferido ainda no ventre o nosso amor uma precipitada vitória mal parida. Enterrados na mágoa e no ressentimento, seremos sempre duas partes de qualquer coisa que não cresceu, mas que ainda assim se tornou maior que nós.


«Ou é agora ou é tarde demais.» in In Sexus Veritas

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