20 de janeiro de 2014

Que Mulher?

Passámos tanto tempo a pensar no que poderíamos ter sido que acabámos por nunca ser nada de verdade. A tua obsessão racional conjugada com o meu sentimentalismo exagerado fizeram de nós meros desconhecidos à porta do café que nos viu entrar tantas vezes de mãos dadas. Se os nossos olhares se cruzam é apenas para espalhar no intermédio do espaço a raiva que se acumula há anos e que não há maneira de sabermos exorcizar. Amamos alguém. Amamos alguém de fachada no alpendre onde fica a esplanada em que antigamente sentávamos os corpos mutuamente devotos. Mas é só isso: uma fachada. Não mais que uma fachada, uma necessidade urgente de nos ferirmos, de armadura envergada e arma empunhada.
Não me parece que resulte. Conheço o fundo desse olhar, as profundezas dessa alma. És diariamente aterrorizado pela possibilidade de nunca me vires a desamar. Sabes que nunca me vais desamar. Esse alguém por quem me substituíste não conhece as dimensões que te vão dentro nem atenua os ardores do espírito que te assaltam a razão. Nenhuma mulher sabe com que intensidade te apetece amar, se te apetece amar sequer. Nenhuma mulher consegue ver a que lume te deitaste, com que brasa te atirar. Nenhuma mulher sabe que o melhor é deixar arder. Nenhuma mulher.

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