31 de julho de 2013

Respostas Inertes

Os nossos encontros são uma forma de bailado: tu olhas-me, eu passo por ti e finjo ignorar-te. Depois tu agarras no telefone e enciúmas-me com a total consciência de que estás a fazê-lo, porque sabes que não te suporto com outra. No final seguimos caminhos opostos, sempre com palavras por dizer que já mal nos cabem na boca, e o peito a arrebatar de orgulho por, uma vez mais, não termos cedido aquilo que nos empurra inevitavelmente um para o outro.
Gostava de te perguntar muitas coisas.

- Amo-te.

Como é que esse sentimento aconteceu sem aviso prévio e resistiu, mesmo assim, à fragilidade de um beijo? Nunca me disseste como é que se começa a amar uma pessoa. Como é que se dá o primeiro passo. Quando eu te amei, tu já me amavas primeiro, e no entanto eu não sei descortinar esse talento que te nasceu não se sabe de onde para me atormentar anos a fio.

- Amo-te, mas não te posso.

De que é feito esse orgulho metálico que nunca te deixou perdoar-me? Depois de tantos anos a digerir as minhas culpas acabei por chegar à conclusão que foste tu. Foste tu que não me soubeste suportar nem reter e que fizeste de nós um monstro calculista. Durante todo este tempo ferimo-nos um ao outro, e temos esperado vagarosamente que um de nós caía, por fim, redondo e sem esperanças.
Nunca consegui dar um final a esta história - tu não me deixas. Faltam palavras. Faltam as palavras que nunca me disseste, porque as que disseste... essas não são suficientes para nos matar.


Cascais, Boca do Inferno 2013

1 comentário:

Ana Tapadas disse...

Foto e texto óptimos!

Beijinho