21 de setembro de 2011

Caminhos de Portugal

O comboio... São as viagens. Numa introspecção quase obrigatória, é o soltarmo-nos da vida cansada e monótona, o olhar para outras caras e adivinhar o que dentro delas vem; é uma bagagem esquecida ao acaso, com um pijama dentro e uma máquina de barbear, o esquecer de ser parecer para se ser de verdade. Falharmos os olhos de outrém e esquecer, tão pura e simplesmente, de olhá-los outra vez. 
O pôr-do-sol que fica para trás, na ânsia de voltarmos para agarrá-lo, desvanece-se no pensamento à velocidade de um breve instante, e eis que já fitamos, de novo, outro rosto que não vemos, outro pensamento que não adivinhamos, outros modos que não reconhecemos. Na verdade, somos tão frágeis como qualquer outra paisagem que foge lá fora, e saíndo do comboio seremos seres tão breves e esquecidos quanto elas. Depois, somos só pessoas de novo - mecânicos. Nunca chegaremos a ser tão genuínos quanto eramos no comboio... 

Frágeis, dúbios, perdidos e inconformados, pesados - somos nós, as pessoas.


Pista da Ladeira (2011)

2 comentários:

Ana Tapadas disse...

Muito bom.

Linda foto.


bjs

APC disse...

a tua escrita brota simplesmente. bela, sempre muito bela.