Conheço bem essa doença em que te deixaste embalar e sei que o teu amor por mim é tão atroz que só me queres nessa zona de conforto-ilusão. Perdi a conta aos dias que fiquei parada, a amar-te só, até entender, finalmente, que o que nos une é apenas uma patologia venenosa e fatal.
Hoje deixei de querer entender-te porque tudo em nós é demasiado vago e letal. Ameacei várias vezes essa pré-imagem que concebeste da minha alma e que durante tantos anos consumiste, mas cansei, de verdade, de ser esse ser inanimado nas tuas mãos.
Dei-me muito (dei-me demais) a emoções que não eram minhas, até que descobri que era exactamente essa a minha fragilidade: a insensatez de outro, um outro... Revestir o meu corpo com o suor, o ofegar, a febre de outro não era aquilo que precisava para te perpetuar.
Finalmente, precisei apenas de um copo de vinho e um cigarro mal apagado para eternizar a chama em mim e nunca deixar fugir a paixão de ti. Encontrei, de costas para mim, esse olhar discreto que às vezes se cruza com o meu e descubro, nesse mesmo instante, a vergonha com que ele se lança a mim. Afinal não fui eu que errei - estás fora do meu campo de visão, enfim.
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Estradas do Alentejo 2007 |
5 comentários:
Muito belo o texto, garota!
bjs
Vamos recobrar as forças!
bjs
Escreves sempre tão bem, Sarinha :)
Voltei e deixo um beijinho.
Está quase garota!
bj
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