A minha parte preferida do verão é a brisa da madrugada. O calor infernal da tarde desvanece ao sabor do passar lento dos ponteiros do relógio, e por volta das 4 da manhã traduz-se só numa leve - muito leve - brisa. Deitada ao relento, na minha varanda, enquanto observava atenta o fumo do cigarro desaparecer, esquecido, noite dentro, comecei a pensar na razão da nossa existência.
Eu chamo-nos paixão, desejo, ardor, intensidade, prazer, vício. Chamo-nos inferno, doce inferno, loucura.
Sou geralmente uma pessoa exigente, e portanto perfeitamente disponível para me entregar às obrigações da tresloucada exigência que tu és. Porque é isso que conta, a disponibilidade com que me entrego ao esplendor das tuas investidas.
Não sou comprometida, não aceito o sexo como um motor de combustão para (re)acender um banal sentimento de amor, muitas vezes atrelado a uma cega obsessão. Vou, faço, sinto e gosto, tudo isto num só impulso, de uma só assentada. Da próxima vez é uma outra causa que me move, e um punhado de novas sensações percorre a minha alma, nunca vacilante às investidas do prazer.
Fazes-me bem. Apoio-me nesta incerteza certa, paradoxal e insegura. De linhas curvas mas visibilidade recta. Entregue só, e só, à carne, ao físico e fazes-me sentir viva. Tenho sempre uma razão que não conheço para ir ao teu encontro, e depois, quando me convertes a uma devota amante do teu corpo, fazes-me cair, suave na cama e uma iluminação que me compensa, suponho, acende-me o espírito e mostra-me porquê.
Aceito que seja transtornante o móbil que nos conduz, é mais além.
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