19 de maio de 2009

Há emoções que às vezes me esqueço de sentir. Neste caso, o "às vezes" prolongou-se dramaticamente por cinco anos e só hoje, que me permiti abrir as portas a novas sensações consegui agarrar a intensidade das coisas que banalizei durante tantos anos. Acabei por criar um hábito mundano, um vazio teórico ao longo do tempo.

Venho pela rua frenética, a caminhar devagar, com os ouvidos à escuta, os poros mais abertos e sensíveis que nunca, e, num ápice, há uma pacata província que me penetra. O sabor do tabaco apura-me os sentidos, e até isso fiz questão de não banalizar, por uma vez. O chão desalinhado, sujo, feio, a cravar-se-me nos pés, numa luta desigual contra a sola dos sapatos.
Vou por aí, sempre com um destino concreto (porque não sou pessoa de me desleixar daquilo que quero), e quando entro na escola é toda uma lufada de ar que me atinge.
Por entre o mar de gente, consigo, pela primeira vez, alienar-me desse magote físico. Alguns encontrões à frente, nunca o ruído das conversas frágeis de corredor me pareceu tão profundo. Caminho como se fosse uma outra realidade, um mundo paralelo gerado à minha volta em forma de biombo... No meio de tantas caras não sei distinguir qual delas mais me marcou, mas sei que estarão comigo até à eternidade precoce da minha mente.
Um dia o meu cérebro decide que é hora de renovar laços e a dolorosa transição acaba por se finalizar com uma nova enchente de caras que não conheço, que não me são nada, mas que considero o passaporte para um futuro cada vez mais próximo.

1 comentário:

Ana Tapadas disse...

Sim...caminhamos sós, por isso não seguimos ninguém. Mas deveremos procurar o nosso trilho.
Que encontre o seu!
Beijinho