11 de março de 2009

Tela

Imagina um quadro: um quarto cheio de silêncios mal encenados, gemidos espalhados ao acaso que se colam freneticamente à parede amarela do fumo. Desejos mundanos a que te permites numa noite severa de Inverno. Lá fora a chuva a cair, violenta, sobre as pedras da calçada portuguesa, já gastas por séculos de História. Imagina dois amantes como nós, no mesmo quarto de hotel, assaltados pelo mesmo desejo, no mesmo apogeu platónico que nós.
Uma cama desfeita, vestida nuns lençóis cansados de prazer e nós sufocados pelo próprio ar que respiramos. Danças ao sabor do meu sentir, no mesmo compasso que os meus gemidos e no mesmo timbre da minha voz. A quimera de te ter em mim e eu em ti ultrapassa barreiras, os limites racionais de um humano. Consigo ouvir barulhos estranhos no mais ínfimo de ti, que vêm lançados que nem rockets e me atingem em cheio.
Uma atmosfera pesada do fumo do tabaco. Eu enrolada apenas num lençol, sentada na cama, com as pernas flectidas e tu à minha frente inclinado para a frente, à espera que eu deite fora o fumo do último bafo para me beijares horas afio, e possuíres-me até te sentires pleno, indiferente ao que não sabes, só embargado no que te deixei saber.

2 comentários:

Ana Tapadas disse...

Está a escrever cada dia melhor!
Beijinho

LeBron-James disse...

Tas toda inchada ja' ;P

Like it, keep goin' :)

**** ;D