Abriu os olhos quase a medo e levantou-se. Um clarão forte de luz, vindo da janela aberta, ofuscou-lhe a visão, e, como se estivesse programado, voltou a cair no chão. Soltou um gemido imperceptível ao bater com o corpo no soalho duro. Sentiu um ardor amargo subir-lhe à garganta, olhou para o braço - estava inchado e negro. Deixou cair a cabeça no tapete, como se tivesse desistido de viver, mas quase maquinalmente estremeceu.
- Tudo que sou não é mais do que abismo
- Em que uma vaga luz
- Com que sei que sou eu, e nisto cismo,
- Obscura me conduz.
- Um intervalo entre não-ser e ser
- Feito de eu ter lugar
- Como o pó, que se vê o vento erguer,
- Vive de ele o mostrar.
- Fernando Pessoa
1 comentário:
Até amanhã!
Beijinho
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