1 de setembro de 2014

Sobre nada

Escrever e apagar. Não quero falar sobre ti. Começo a escrever sobre o Universo e acabo a falar sobre ti. Depois apago, debato-me com esta memória escura que me enche a memória. Talvez sejas só tu que tem permissão para ocupar os meus desabafos. Não vale a pena perguntar porquê. A doença está instalada. Já nem digo que os dados estão lançados - já foram lançados há muitos anos, calhou oito, esse número redondinho onde rebolámos infinitamente felizes. Podia ter calhado doze, ou vinte e quatro, se desse (mas não dá). Já os recolhemos, baralhámos, lançámos outra vez. Tenho a certeza que já calharam todas as combinações possíveis e, porém, ainda nenhuma subsistiu aos solavancos violentos do destino. Que quer isto dizer? Seremos nós uma probabilidade impossível, ainda não descortinada pelas teorias matemáticas de quem não tem tempo de amar? Podemos ser isso ou uma espécie de Idade da Pedra, irremediavelmente perdida de tão ultrapassada que está. Gostava de aceitar os finais, mas finais nunca me satisfazem. Preciso de psicanálise. Dizem que se pode morrer de amor. Literalmente morrer de amor. Dizem que pode ser tão insuportável e doloroso para o corpo humano que chega a ser fatal. Tenho medo de morrer, mas de amor não - não consigo encontrar uma razão mais legítima para morrer que não de amor. Esqueci-me de dizer que ainda há coisas tuas a ocupar-me espaços grandes nos armários.

«A cadeira do Ditador» - Cinema S.Jorge, 2013

Sem comentários: