29 de junho de 2012

Olhamo-nos nos olhos sempre com algo em falta. Não sei se nos faltamos um ao outro ou se, simplesmente, por já não nos pertencermos, amarguramos essa ausência de olhar cerrado. Sei que qualquer coisa que fomos é fumaça agora... Uma leve brisa daquilo que fomos um dia conforta-nos as entranhas, porém, sei que te estilhaças da mesma forma que eu de todas as vezes que te passam pela mente fragmentos de um amor pouco benigno que uma vez se atravessou pelas nossas camas fora.
Olho pela janela uma paisagem urbana e degradada - a vizinha de baixo faz obras e eu sinto-me só no frenesim desequilibrado da minha paixão. Um dia empurraste-me violentamente de tanto que me amavas (sem poder) e é esmagada nessa parede suja que me deixaste impotente e frágil: nunca mais fui a mesma. Talvez porque me transfiguras nesse bafo quente que te sai da boca, meio whisky, meio tabaco, meio doença, meio morte.



Aljezur 2011

4 comentários:

Ana Tapadas disse...

Saudades suas também!
Um texto ao «velho estilo».

Espero que tudo lhe esteja a correr muito bem.

Beijocca

Ana Tapadas disse...

Obrigada pela sua presença, minha amiga.

Beijo e tudo de bom.

Ana Tapadas disse...

Quando se dedica a actualizar este blogue, miúda?

bjs

P disse...

Isto é praia do Monte Clérigo, Amoreira? Cresci nos Verões daqui, sendo o meu pai de Aljezur! Já não passo lá uma noite há uns 9 anos...
Bons textos!!