17 de outubro de 2012

Nenhuma Morte Apagará os Beijos

Nenhuma morte apagará os beijos 

e por dentro das casas onde nos amámos ou pelas ruas 
                                           [clandestinas da grande cidade livre 
estarão para sempre vivos os sinais de um grande amor, 
esses densos sinais do amor e da morte 
com que se vive a vida. 

Aí estarão de novo as nossas mãos. 
E nenhuma dor será possível onde nos beijámos. 
Eternamente apaixonados, meu amor. Eternamente livres. 
Prolongaremos em todos os dedos os nossos gestos e, 
profundamente, no peito dos amantes, a nossa alma líquida 
                                                            [e atormentada 

desvenderá em cada minuto o seu segredo 
para que este amor se prolongue e noutras bocas 
ardam violentos de paixão os nossos beijos 
e os corpos se abracem mais e se confundam 
mutuamente violando-se, violentando a noite 
para que outro dia, afinal, seja possível. 


Joaquim Pessoa, in «Os Olhos de Isa»

2 comentários:

P disse...

Joaquim Pessoa tem textos muito interessantes mesmo, embora seja pouco conhecido do 'público', em geral.

Ana Tapadas disse...

Joaquim Pessoa não é mediático, mas é um grande poeta. Daqueles que vai permanecer na literatura. Ainda bem que gosta, minha querida aluna!


Beijo