16 de fevereiro de 2011

Somos doentes.

Podia ser perigoso este pulsar descontrolado - e é - de tal forma que te arranhas e sufocas cada vez que me sentes chegar. Finges-te surpreso e atrapalhado, desvias o olhar para o portão numa suplica interna para que vire costas e saia, mas esqueces-te das marcas no pescoço, desse sangue a jorro peito abaixo. Engoles em seco, como que assentindo a minha imposição calada e mandas-me subir.
Sustento-me a meio do corredor nessa cama desfeita, nesse cheiro fétido de outra. Contorço ligeiramente o pescoço, sadismo latente e imploras perdão. Mentiras. Acorda de vez para mim, ordeno-te - não tens o direito de não obedecer a este amor tão loucamente doce, tão estranhamente psicótico.
Não sejas patético, nós somos doentes. Há carne entre nós, vísceras. Há ódio e obsessão, domínio, perversão. Há catástrofe em cada ofegar. Tudo queima e arde, tudo morre.


2 comentários:

Ana Tapadas disse...

Texto forte, como sempre...belo, todavia.
bj

APC disse...

Sara, os teus textos continuam a surpreender-me.
beijinhos, miúda.
P.S. eu vou passando por aqui. porque adoro ler o que escreves.