25 de dezembro de 2010

Luxurious Hatred

Passei dois ou três anos a dizer que te amava e a convencer-me que eras o amor da minha vida. Afinal tudo ficou mais fácil e claro no dia em que decidi ser racional por um momento.
Espero não ferir susceptibilidades, mas tenho de dizê-lo: apaixonei-me perdidamente ao primeiro beijo, nunca mais quis saber de nada. Adorei a tua perspicácia quando me beijaste e, mãos nas mãos, não consegui compreender o caminho hostil pelo qual me levavas. Depois desse primeiro impacto desmedido, deixei de conseguir distinguir-me a mim de ti e, por isso, tu passaste a ser o meu cérebro, o meu coração e pior: o meu corpo. Abandonei-me durante anos em prol daquilo que sentia por ti, deixei-te, altivo, tomares as minhas decisões e estagnava até que me orientasses. 
Tudo isto para no fim receber de volta as palavras que te disse, o perfume que te dei e ser obrigada a devolver o toque das tuas mãos no meu corpo; para me dizeres que éramos só amigos, como se "só amigos" entre nós existisse e descobrires, finalmente, que entretanto até me amavas tão profundamente que não aguentavas o balançar da minha cintura noutras mãos.
Não troco, porque não quero, o sofrimento que segurei, entre mãos, durante anos - foi à conta dele que passei a odiar-te tão intimamente que me ceguei das entranhas até à boca. Todo esse amargor devolveu-me intacto o orgulho, mesmo que o rancor perdure ainda por minha alma acima.  


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