15 de junho de 2010

Da minha alma pouco sei

Parar não é morrer, é só esse entre-corte que vai do pensar ao fazer. É a imensa distância que nos afasta a cabeça do coração, para o corpo poder processar e decidir qual deles assume a liderança.
Contigo o meu coração ganha sempre. Nesse só instante, tão curto e subtil, consegues agarrar-me e levar-me para a cama sem eu dar por nada. Quando desperto, com uma decisão plausível em mãos, pronta para ta atirar à cara e deixar-te de rastos, já estou debaixo de ti, suada e de unhas cravadas nas tuas costas.
Vês o sangue na cama? Todos os dias me esvaio um bocadinho mais... Encontro em qualquer desvario a coragem para arrancar de mim a vida que me transferes a cada investida mais cruel. Encontro sadicamente o meu amor, guardado nos confins de qualquer coisa à qual não sei dar nome. Da minha alma pouco sei, roubada que foi a modos rudes e desonestos.
Estamos escritos letra por letra nas cartas que o carteiro entrega atarefadamente, sem imaginar a dimensão das coisas que esses envelopes trazem lá dentro, mas da minha alma pouco sei.




The postman always rings twice (1946)

3 comentários:

Ana Tapadas disse...

Acertou!
Bom texto sim senhora. Para quem não gosta do estilo do J. L. Peixoto, anda a ficar perto...
Beijinhos

Ana Tapadas disse...

Brincadeira...foi só por causa do «template» preto e do sangue na cama...
Toca a estudar!
bj e até amanhã às 10 horas

Ana Tapadas disse...

Tem um convite no meu blogue.
Bjs