Esmerares-te por pedaços da nossa existência não chega. Como uma analepse, comecemos por onde devíamos acabar.
Saio de tua casa em bicos de pés pela manhã, para não te acordar. Deixo fechada a porta atrás de mim, que faz um ensurdecedor silêncio de cada vez que bate, pesada, no arco vão que preenche. Já no elevador é quando arranjo a roupa, desleixadamente vestida e é então que reparo ter o casaco do avesso - como nós.
A porta abre-se e uma simpática senhora, já idosa, dá-me os bons dias com uma expressão aconchegante, que quase me dá vontade de deitar a cabeça no seu colo e chorar as recordações de uma noite em que o pecado dormiu comigo. Quais infâmias à paixão!
Um fantástico bailado de ideias acompanha-me até que meta a chave na porta da minha casa. Depois... Depois?! Depois tomo um banho morno e demorado, para me livrar de ti, apago todas as luzes, fecho todas as cortinas e deito-me. Imaculadamente pura, a minha cama nunca me deixa ficar mal - sinto-me confessada.
Só no outro dia, quando volto a acordar, é que dizes o quanto me amas.
Qual analepse?!
1 comentário:
Gostei do texto.
Obrigada pelo conselho...
Beijinho
Enviar um comentário