26 de novembro de 2012

"Vó Zaiinha"

Ó vó... Então vó?! Tu ficas. Tu ficas porque nada deste mundo inteiro te há-de arrancar de mim. Tu ficas porque eu amo-te muito. Amo-te com a minha própria vida. Tu ficas porque ainda tens netos por conhecer; ficas porque eu ainda não te disse vezes suficientes o quanto eu te amo.
Ó vó... És a única avó do mundo que me deixava comer sal do saleiro e açucar do açucareiro. És a única avó do mundo que me deixava sentar na tua "peninha" quando estavas muito doente, que me seguravas ao colo noites inteiras quando eu adormecia com a cabeça encostada à parede do fogão, lá da casa velha. Davas-me gelados às escondidas do velho, deixavas-me misturar água com farinha lá na mercearia e deixavas-me cortar a casca do queijo sempre a ralhar porque eu deitava metade para o lixo. És a única avó do mundo que tem sempre uma garrafa de água fresca no frigorífico, de Verão e de Inverno, porque sabes que eu só gosto dela assim, mesmo que os outros digam que me faz mal à garganta. Tu és a única que me faz canja com ovinhos pequeninos das galinhas, mesmo que eu seja a única na família que gosta assim. Tu és a única que se lembra de mim quando assa bacalhau e que me guarda o resto, nem que seja só para dar uma garfada quando chego aí a casa. Ó vó... tens que ficar. Tens que ficar porque és muito forte, eu nunca te conheci de outra maneira... Quero ver esse sorriso muitas mais vezes da minha vida, porque é o único que me alegra os dias, mesmo os menos bons, porque sei que é o mais verdadeiro que alguém pode fazer. Não quero nunca chegar a casa e não te ter sentada na cadeira branca, com a manta aos ombros e as novelas na televisão. Quero essa gargalhada sincera que me deitas cada vez que te digo que o único café que eu bebo é aquele que tu fazes. Quero que saibas por muitas mais vezes (porque as que te disse ainda não são suficientes) que a coisa que mais me conforta é o teu ombro. Não quero largar esse teu abraço quentinho de avó velha, nunca.
Ó vó... Tu ficas. Eu sei que ficas porque não houve ainda um dia desde que eu nasci que tu me tenhas desiludido.

6 comentários:

Ana Tapadas disse...

Belo texto: pela forma e pelo conteúdo afectivo. Como são boas as avós. (Que saudades tenho da minha...)

Beijinho


Ana Tapadas disse...

Espero que tudo lhe esteja a correr bem!

Obrigada, por me dizer que não lhe revelei apenas escritores...

Beijinho

Ana Tapadas disse...

Vamos lá a actualizar este blogue!

Beijocas

vieira calado disse...

Vejo que não anda muito nos blogs.
Mas não quero deixar de desejar-lhe um bom ano!

Saudações poéticas!

Ana Tapadas disse...

Vejo que anda ausente daqui, espero que seja por causa da nova vida académica!

Beijocas

P disse...

ficará!
tudo de bom e bom ano.